Remarcom

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Eu e Luis

Quando vi “Morre Luis Fernando Veríssimo” estampando a manchete do G1, me dei conta do erro horroroso do redator. É impossível um cara como o Veríssimo morrer. Nos encontramos algumas vezes na Zero Hora, onde eu trabalhava e ele brilhava. Anos depois, já publicitário, liguei pra pedir uma texto dele para uma campanha. Ele me disse que não conhecia a Tha, que estava sem tempo, que se eu achasse um texto já feito, era só usar. Se eu achasse? Fui procurar e todos os textos eram melhores sozinhos do que meus mil desdobramentos de campanha juntos. Veríssimo e eu torcemos para o Inter. Mas a torcida dele sempre será mais linda, porque traduzia como nenhuma outra a aflição e a glória que nós, os colorados, sentimos com o time vencendo ou perdendo, nos últimos tempos mais perdendo. Eu e Luis somos íntimos, embora ele nunca soubesse disso. Almoçamos juntos centenas de vezes. Eu comendo um bife com ovo. Ele sendo lido em frente ao prato. Tenho uma crônica de estimação, “O Popular”, porque tem amor envolvido. Eu ganho a vida escrevendo. Luis escreve e a vida ganha com isso. Muitas vezes era só depois de ler algumas de suas crônicas sobre o cotidiano, rotinas, relacionamentos ou Brasil e brasileiros é que eu sabia o que estava sentindo. Um texto do Veríssimo captura um momento e te entrega, já traduzido, para que você entenda o que se passa. Hoje fui a praia, jogar as cinzas desse momento ruim no mar e lembrar de um momento bom. Foi quando lembrei que ele escreveu sobre o Inter campeão do mundo em 2006: “se eu estiver dormindo, não me acordem”. Isso é mais do que uma poesia. É pedido expresso de um gênio. Então silêncio, pessoal. Não vamos acordar o cara.