Remarcom

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Leve

Ele ainda não era o que ainda seria, o Goulart da poesia, o ferreiro das palavras. Ela era branca, russa e neve. Eram os dois de outros tempos. Ela, o Ser. Ele, o Nada. Entre o ser e o nada, há de tudo. Conversa, paixão, revolução, interesse, abismos, lirismos, comunhão e, sobretudo, amor daquele tipo de amor que é um tipo de amor que é mais do que um tipo de amor. Fagner entrou nessa desavisado, musicando separações. Quem sou eu pra dizer o que Goulart quiz dizer? O que sei é o que eu ouvi o próprio falando. Que ela era russa, que era inverno. Que foi um inferno partir. Que não partiram porque não se parte desse nascimento uma vez acontecido. Não é possível fazer o amor funcionar em um segundo plano, ninguém (tendo sido convidado para sua doce dança) lhe diz ” parti “. É mais do que uma impossibilidade, entende? O amor que reparte, esse amor que sabe do que se trata, que conhece, toca, estronda, implora e te acorda às 4 da matina, e te torna, e te reforma, e de transtorna, e te acalma, e te agita e te espia a janela fechada. Esse amor nem vai nem volta. Esse amor é leve, mesmo que ela seja russa, branca de neve.

Se quiser conhecer Cantiga para não morrer do Ferreira Goulart na voz do Fagner e edição minha, dá uma espiada.

O amor não passa desapercebido