
Há um instante em que a conta se apaga no fastio do consumo, que a espera desespera no desafio do desejado, que o avião toca o solo e o amor despista, que a saudade parte uma parte de si, que o aniversário lembra que você não está mais ali, que a fogueira queima, que o amor teima, que a neve é fofa mas fria, que o jugo é pesado mas o corpo aguenta, que o tempo é passado e a lembrança alenta, que um nome arriscado foi riscado da agenda. Não houve crime nem dolo. Mais não falo, implorei por outros perdões. Por esse estar aqui às vezes choro, me importo, mas não busco nada do que seria menos uma carícia e mais um consolo. Esse estar aqui é outra coisa, por ser exato o mesmo o vivenciado em horas, dias, o tanto que nos chamamos e não ouvimos e não soubemos, e não dissemos, e calamos, e não fomos, e quisemos, e trocamos e falamos, e silenciamos, e esperamos, e esperamos e esperamos. Construí altares para os dias comuns, de compra, de trocar de roupa, de ir ao mercado, de perder a hora, de marcar cinema, de comprar perfume, de trocar de shampoo, de voltar do escritório, de comprar um pijama e aspirar a casa, que cheiro teria? As velas oferecidas ao Santo de Todas as Rotinas foram tantas e tão pouco atendias. Não aponto, permaneço. Não renuncio e não me submeto ao concluído, apenas isso. Sempre estarei aqui e o sempre é um tempo demais. O sempre é o momento presente, o que foi feito nos milhares de olhares mirando horizontes em busca de navios singrando os amares, as marés e tudo o que é aparente.