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Sextô

O escoteiro ao lado é um dos meus personagens preferidos de UP. Já conversamos sobre essa história de amor, amizade, coisas que dão errado, sinceridade, encontro, coisas que dão certo, vida e morte. Você já viu? Ele é a anti-sexta, a própria alegria por uma missão que, para muitos, pode parecer bocejante. Eu não gosto de sextas, tenho meus motivos. Depois que ela se tornou um passaporte para a felicidade, então, acho um dia aborrecido como passeios ansiosos no shopping. As pessoas transformaram a sexta no último dia de trabalho, como se trabalhar fosse um amontoado de tristezas a processar. Entendo, existe muito trabalho chato e alguém tem que fazer. Eu já fui o responsável por preencher cheques em uma empresa. Lembro de deixar post its nos mais graúdos, lembrando ao fornecedor as coisas que ele poderia comprar com aquele montante. Compras absurdas como 50 mil latas de sardinha. Ou 18 barras de ouro no formato de chinelos Havaianas. Virou uma febre aquilo no departamento, acho que se chamada de “Setor de Contas a Pagar”. Não fazia o que gostava. Mas dei um jeito de gostar do que fazia. E quando me ofereceram uma chefia ali, fui embora. O perigoso dos lugares que não servem para você é o risco de ficar lá. Acho que isso vale um pouco pra tudo, inclusive para as sextas. É como se houvesse um determinado tempo na semana em que você é finalmente autorizado, estamos livres. Finalmente sexta. Finalmente o namorando. Finalmente o carro. Finalmente o casamento. Finalmente o filho. Finalmente a aposentadoria. De finalmente a finalmente, vamos nos aborrecendo e ficando aborrecidos. Elegendo culpados, julgando inocência ou dolo, apontando o dedo para o destino ou apanhando da vida. Alguns dos encontros com o mundo são, mesmo, uma chatice.  Permanecer ali depende da gente, não do dia da semana.  Acho que a abordagem do Clóvis, o filósofo,  sobre o tema me influenciou. Hoje passei o dia olhando o céu papudo e choroso, o sono encroou em mim, fiz a reunião que precisava e saltei no colo da preguiça. Nem triste, nem feliz, ali, apenas, numa sexta. E ela, que sempre representou separação, ganhou outra perspectiva. Estamos onde desejamos, fazendo o que é preciso. De sexta a sexta. *** , forte e sempre.