Somos sopros, já te deste conta? Instantes, momentos que constroem coisas, fragmentos que andam. E não procure nisso uma gota de pessimismo, não há. Há uma calma que assume o temporário que respiramos, no meio do passageiro de tudo que vive. Somos microns, movimentos milimétricos que se encontram na dança para a qual nos convidamos.
Aqui estamos, seculares no conhecimento coletivo que nos alcança. Mil tons, mil nascimentos. Impressionantes. Impressionados. Impressionistas. Abra um livro, reconheça o milagre, hoje é mais do que o único dia mais feliz do mundo, é o único possível. Ache graça em piada de gaúcho, da minha risada, de nada, de dormir com o telefone na mão, de nos ligarmos no meio da turbulência para falar de jardineiros, amores e outros sabores. A bolsa vai subir, gente será eleita, muitos dirão que é um absurdo, pessoas terão seguidores, ursos e estrelas seguirão seus caminhos.
O presente é o significado, percebe? Pensar no que dar ao planeta, escolher o que fazer na vida, fazer o pacote, imaginar um bilhete, alegria é uma voluntária, se oferece.
Abraço como quem se recebe e se recebendo, percebe a importância do cotidiano.
O significante é que você me compartilha a existência, não porque penso, oh não. Quem vive na base do penso logo existo, vai entender que haver algo pensante nada prova. É preciso viver algo saltitante, visto na exuberância do olho alheio, um lanche gostoso, a arte, um foguete, uma caneta, um abrigo antiatômico, um amigo incondicional, o cheiro da terra molhada, o pão de queijo, quase todos os mineiros, pé de moleque, sucrilhos, estrela, confissões, semelhanças. A nossa árvore, o silêncio necessário, a proteção que trocamos, a semelhança que aproxima, nada detém o crescimento do que está destinado ao que é além. Ir ou voltar é uma questão de ponto de vista. De onde vejo, estamos dentro, nos trocamos de alma, permutamos torcidas, sei o que há de mim em você e isso não me desfigura, mas transforma.
Somos sopros, convivas, estetas, gêmeos das serenatas, torcedores do Inter, formandos, fatos de estimação, recordação, soldados, corretores de texto, descrições do universo, pequenos cães de colo. Não precisamos de consolo, dispensamos eventos, precisamos de praia e algum vento. Estou aqui, lado a lado, na foto, no Lada, na Kombi, na canção e no portão que faz trim trim trim quando se abre.
Pés descalços, mãos soltas, bons livros, cinema, claridade. Muita presença, muito carinho, cafezinhos no capricho e onde tudo que exista, exista em paz. Agora é apertar o botão que atualiza. Agora ouça o que a vida manda. Sabe o que ela diz? Levanta-te. Levanta-te e anda.